Depois da estrela perdida
Arorá
curadoria Keyna Eleison
Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2023 – 16 de novembro de 2023
A caverna e o sol podem ser o mesmo lugar
A caverna e o sol podem ser o mesmo lugar. Foram algumas das palavras que escutei de Arorá enquanto conversamos sobre seu processo e seus trabalhos para a exposição. E essa sentença ecoa em meus ouvidos docemente e definitivamente.
E me deixei seduzir por suas palavras e por suas mãos e que faziam. Me deixei levar pelo sol.
E sobre sol: Oxalá criou todos os seres, com exceção de Logunedé, sol, criação e vida. Rá, divindade sol na cultura egípcia, é a deidade mais importante, considerada criadora do mundo, do universo e da humanidade. Suria ou Aditia, na cultura hindu é a deidade do sol. Criador do universo, fonte de toda a vida, a alma que traz calor e luz ao mundo. Viaja pelo céu em uma carruagem de ouro puxada por sete cavalos, conduzida pela Aruna vermelha, a personificação do alvorecer. Coraci ou Guaraci é a representação do sol na cultura tupi.
Sol, mais brilhante que 85% das outras estrelas da Via Láctea, estrela central no nosso sistema planetário. Composto primariamente de hidrogênio (74% de sua massa e 92% de seu volume) e hélio (24% de sua massa e 7% de seu volume). Possui a classe espectral G2V, G2 significa que a estrela possui uma temperatura de superfície de aproximadamente 5785 K (kelvin), o que lhe confere uma cor branca. Sua visão nas cores amarela, alaranjada ou avermelhada no céu do planeta terra, principalmente próxima ao horizonte, se dá por conta dos raios da atmosfera.
E é a atmosfera desenvolvida por Arorá que se faz presente. A massa física para o desenvolvimento de seus trabalhos é intensa e nos entrega uma cor branca que se amalgama em brilho e mais intensidades e cores por conta dos rasgos de cor que a artista deita. Se engana quem imagina que seu trabalho está entregue em tudo que vemos. É preciso tempo e ainda sim não se pode chegar perto de tudo que os compõe. Quando Arorá fala que “a caverna e o sol podem ser o mesmo lugar”, ela nos convida a transcender as fronteiras aparentes entre o interior e o exterior, entre o escuro e o luminoso. Sua arte nos leva a uma jornada de descoberta, onde as sombras da caverna se transformam em raios de sol que iluminam nossa relação.
No entanto, Arorá vai além da mitologia e da física estelar. Ela cria sua própria atmosfera, uma atmosfera de significado e reflexão. Cada obra sua é um convite a mergulhar nas profundezas do pensamento e da emoção, a dançar pelas frestas e nas silhuetas de seu percurso. Suas criações não são meramente objetos, mas portais, e ao mesmo tempo simples coisas nelas mesmas, estão ali existindo em sua integridade. A caverna e o sol se tornam metáforas de percepções, onde o escuro e o luminoso se entrelaçam. Ao passo que continuamos a perceber o que Arorá desenvolve, encontramos suas obras como pedaços de um quebra-cabeça cósmico, e cada peça nos aproxima um pouco mais da caverna e do sol, que, de fato, podem ser o mesmo lugar.
“Nós morremos. Esse pode ser o significado da vida. Mas nós fazemos linguagem. Essa pode ser a medida de nossas vidas.” – Toni Morrison, no discurso proferido ao receber o Nobel Literatura (1993) E, com Arorá, entendemos o impulso desse medir. Para além da finalidade da medida.
Keyna Eleison