a pronúncia dos gestos

Astrid González

curadoria Camilla Rocha Campos

São Paulo, 19 de agosto de 2023 – 07 de outubro 2023

 

a pronúncia dos gestos é o conjunto de obras que designam o respeito de Astrid González com sua própria história afrodescendente. A partir do percurso familiar, passando pela oralidade de saberes geracionais e escutas à natureza, Astrid carrega a responsabilidade de tornar visível gestos e imagens que foram suprimidos do imaginário coletivo colombiano. Ela dá, através de desenhos, fotografias e esculturas, as pistas necessárias para que se possa restabelecer a integração entre a palavra, o corpo e o invisível.

Na combinação da instalação Un jardín de germinados e La capa del zángano a escrita e os desenhos na parede anunciam a magia de ativar, como em uma oração, o crescimento e cura de seres humanos e não-humanos através do alimento-palavra. O manto traz a memória da presença do invisível, marcando a sabedoria, seja na interseção com a natureza, com a astrologia, com os animais ou com as marcas que o corpo afrodescendente carrega. Já com as esculturas Nuevas africanías a partir del joto afrodescendiente, a artista reporta o peso equilibrado na cabeça. Ali está a ideia de transporte e transmissão de conhecimento embrulhadas em trouxas. O molde acentuando o peso reforça a passagem do orgânico para o cimento industrial, atravessando o corpo que sustenta o tempo na dura caminhada e as heranças de resistência. Por fim, a série de fotografias La pronunciación de los gestos completa a escolha intencional de ter a cor preta como base de discurso em toda a exposição. A proximidade da pele nas fotografias esgarça a cor e a superfície atravessadas de ensinamentos africanos na Colômbia, que apresentam similaridades com o Brasil, e que não foram abafados pela colonialidade.

Por toda a exposição, portanto, o corpo, a palavra e o invisível são força motriz da história. As obras, aqui posicionadas, reportam a conexão com outros mundos nos quais as comunicações não verbais trazidas nas ações do caminhar, plantar, rezar ou curar, se encontram. Seja pela lunação ou espiritualidade, a presença de crescimento e movimento constante são evidentes nessas ações. Os trabalhos apresentados chegam como pronúncia e promessa de expor ora o peso, ora a leveza, de se conscientizar sobre a grandeza de ser descendente de quem se é.

Camilla Rocha Campos

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