Entre a terra e o mar
Ana Takenaka e Yasmin Guimarães
curadoria Julie Dumont
Rio de Janeiro, 19 de outubro de 2019 – 10 de dezembro de 2019
Na exposição Entre a Terra e o Mar, as obras das artistas paulistanas Ana Takenaka e Yasmin Guimarães dialogam entre si de forma livre e despreocupada, como o vento que sopra nas velas dos barcos que vagueiam no oceano e que varre os morros vizinhos do espaço expositivo.
A liberdade e a intuição permeiam de fato a produção das artistas, guiando os seus gestos para criar e organizar elementos formais em uma experimentação além da pintura, do desenho e da gravura, na qual a construção da obra se elabora livre de regras, propondo uma imagem intuitiva do mundo.
Nas pinturas de Yasmin Guimarães, o gesto e a matéria guiam a composição. Pontos, pinceladas e manchas de cores difusas como nuvens parecem capturar a evanescente poesia de paisagens abstratas, remetendo à prática inicial da artista na fotografia conceitual. Eliminando a noção de perspectiva, as cores delicadas das pinturas parecem flutuar no plano da tela, coexistindo, às vezes, com campos vazios de linho ou de voile transparente. Geralmente construídas em um movimento centrífugo, as obras de Yasmin Guimarães traduzem a energia de vivências diversas, variações de luzes de lugares ou vibrações de estados emocionais, tornando o invisível visível em um arranjo quase musical.
Conversando com a reflexão sobre o processo de criação e a recepção da arte e da vida de Yasmin Guimarães, as gravuras e desenhos de Ana Takenaka traduzem a alegria dos encontros e os devaneios da vida, ecoando com a afirmação do artista alemão Max Liebermann “o desenho é a arte de abandonar”.
Nas obras da artista, linhas carregam impulsos ou trazem respiros, enquanto palavras, símbolos e formas flutuam no vazio. Elaborando as suas gravuras como se fossem rituais, a artista traz no papel as origens dos seus ancestrais japoneses, considerando o suporte como parte integral do processo e usando, na sua pesquisa, os elementos formais como elementos plásticos independentes, ora pontos de convergências ora contrapontos.
A experimentação presente na produção de Ana Takenaka se revela também na sua vontade de questionar e ultrapassar os limites da gravura, alterando a imutabilidade clássica da matriz através dos procedimentos de tintagem e limpeza, usando faixas e formas coloridas de fita crepe ou de chiné collé e brincando com elementos gráficos e a materialidade do papel.
Ana Takenaka e Yasmin Guimarães agem como vetores, recolhendo impressões de vida e da natureza para encaminhar visões de outros mundos possíveis. Explorando a autonomia do campo plástico, das suas linhas, pontos, manchas e vazios, as artistas propõem, em Entre a Terra e o Mar, uma leitura lúdica de narrativas potenciais na qual a liberdade e o instante presente são os guias, criando assim uma mudança de perspectiva. Esta operação remete ao movimento, em particular ao movimento ocular, pois para focalizar cada pedaço de obra é preciso abandonar o antigo, abrindo portanto o olhar para a magia do agora. Neste mundo transitório criado por Ana Takenaka e Yasmin Guimarães o fluxo, a vibração, o devir das coisas criam um espaço onde cores, luminosidade e linhas podem fluir como as notas de uma composição musical, como o vento que junta a terra e o mar.
“Na arte, o ver não é tão importante como o tornar visível”
[Paul Klee]
Julie Dumont, The bridge project