Escape entrópico

Manuela Costa Lima

curadoria Julie Dumont

Rio de Janeiro, 13 de agosto – 13 de setembro de 2019

As ruas, as suas esquinas, casas, pedras, e nelas o reflexo do fluxo de transeuntes, trabalhadores e moradores estão no cerne da obra de Manuela Costa Lima.

Ao caminhar pela cidade, a artista presta uma atenção particular nas pequenas coisas que passam despercebidas ao olhar desatento: objetos simples, descartados, encontrados em caçambas ou simplesmente presentes no chão ou nas vitrines dos bairros que ela atravessa se transformam em esculturas erguidas ou objetos escultóricos revelados através de um processo intuitivo que beira a performance na sua dimensão de troca, de coleta e de assemblagem.

Seja no uso de pontos de conexões do google maps para se aproximar de lugares desconhecidos e criar interações com moradores de bairros distantes ou na apropriação de materiais ora brutos, silenciosos, ora coloridos e gritantes refletindo um vernacular popular, Manuela Costa Lima revela uma percepção singular do espaço urbano e dos seus detalhes. Nela existe uma delicadeza particular que contrasta com a dureza imediata do seu entorno e propõe uma releitura poética dos objetos e das formas que povoam o cotidiano.

Na sua pesquisa, a artista empresta partes do vocabulário da arte povera e do minimalismo para ressaltar a experiência humana e o necessário vínculo entre os sujeitos e o espaço entre eles, ressignificando através da lente do afeto os elementos que cruzam as suas andanças, reinventando uma cidade mais humana.

Esta leitura particular atravessa as obras de Escape Entrópico assim como a forma que a artista escolheu para enfrentar e dialogar com o espaço expositivo. Nele, uma coluna de feita de mosaicos portugueses flutua. O peso das pedras usadas nas calçadas contrasta com a amarração sutil, evocando em sua estrutura a fragilidade e também o equilíbrio instável de toda relação humana ou matérica. “Vértebras” dialoga com a série antropomórfica “Corpo de Baile”, na qual paralepípedos de pedra ligados estreitamente por lacres de plástico parecem estar enlaçados numa dança lenta. Neste conjunto de trabalhos se repete a imperfeita pureza das pedras lembrando os souvenirs coletados, a magia que surge quando se muda o olhar frente ao desconhecido, dando vida para objetos inanimados.

A imperfeição permeia da mesma forma a série “Erratas”, em que Manuela Costa Lima questiona o rigor fictício de pedras industriais cortadas seguindo um padrão sempre idêntico, a evidenciar as singularidades das suas superfícies e suas geografias possíveis.

Finalmente com “Vínculos”, esculturas de madeira amarradas por tecidos colorido pontuam o silêncio que tomou conta do espaço expositivo, trazendo com suas cores um pouco do ruído do Brás, bairro popular de São Paulo onde a artista instalou o seu ateliê.

Manuela Costa Lima fala nas suas obras da sutileza do gesto humano, da sua presença na cidade, da fragilidade, da precariedade e do caos da vida. Fugindo da lógica racional da arquitetura modernista e da industrialidade padronizada, a artista busca a subjetividade e a liberdade nos desvios, nas caminhadas que a levam de um canto da cidade para o outro, desconstruindo e ressignificando o banal, o espaço e os seus elementos em um escape entrópi

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