morada, alimento e autoteoria
Carla Santana
curadoria Camilla Rocha Campos
Rio de Janeiro, 19 de agosto de 2023 – 07 de outubro de 2023
A exposição prevê a sobrevivência de uma ancestralidade num chão progenitor
A terra que pode ser metáfora para tantas coisas em nosso vocabulário, nessa exposição, é matéria que multiplica pinturas e esculturas, imprimindo espacialmente o percurso de Carla Santana. Percurso esse que tem seu próprio corpo como centralidade e afluência. Nesta exposição, a artista lança referências que salvaguardam o corpo – físico, biológico e conceitualmente – em referência direta à moradas, alimentos e teorias que articulam seu fazer e pensar sobre a terra.
Ao buscar a aliança com o barro, Carla se aproxima do saber de tempos e seres distantes e distintos na lida com esse elemento: da casa do cupim à taipa de pilão, do plantio de milho à gamela que vai à mesa. Nos trajetos encontrados pela artista ao longo de sua pesquisa, a terra é fundamento e carrega a forma de valor em todos eles. Valor do ninho de marimbondo, valor da placa paleolítica, valor do adobe que prensado vira tijolo e sobe abrigo para todo um quilombo. A autonomia da artista sobre como pensar, manipular e compor esse material desemboca em texturas e formas ímpares, passando pelo tempo de mexer, sorver, moldar, misturar, pintar, queimar e compor.
Carla apresenta-se enquanto método ao aceitar que antes de qualquer discurso pronto, existe genuinamente, uma vontade em reconhecer-se, integrar-se a coisas que são atravessadas e apreendidas pela circularidade da vivência que a terra traz.
morada, alimento e autoteoria são os itens apresentados nesta exposição que dão conta de amarrar a produção visual de uma artista que ao elaborar um novo significado para si, organiza com cuidado e complexidade múltiplas histórias ao seu redor. A orientação de Carla Santana com suas obras é direta: abrigar, sustentar, ser.
Camilla Rocha Campos